Por Aline Santos Barbosa e Bernardo Bonifácio Ferreira
O Sul Global, antes visto como mero receptor de tecnologias, emerge como uma grande potência de inovação e criatividade. A capacidade de transformar problemas em soluções, aliada à diversidade cultural e ao profundo conhecimento local, torna essa região um terreno fértil para ideias disruptivas.
Por meio da inovação aberta, que conecta governo, universidades, empresas e sociedade civil, essa transformação é impulsionada de forma a repensar estruturas já existentes de forma melhorar metodologias e incluir novos olhares durante o desenvolvimento e análise do impacto de novas tecnologias na sociedade. Porém, no contexto do Sul Global, a utilização de novas tendências e tecnologias emergentes de alto impacto em 2025 (Gartner, 2024), dentro como campo de Inteligência Artificial (IA), como chips de IA e computação espacial (no segmento de computação e infraestrutura) e simulação de gêmeo digital e interface do usuário (UI) multimodal (no segmento de apps, experiências e interfaces) precisam resolver problemas complexos sociais e ambientais tanto quanto serem acurados e rentáveis.
Grande parte da boa utilização dessas ferramentas tecnológicas dependerá da garantia de que seus desenvolvimentos estejam diretamente conectados com os contextos sociais aonde serão aplicados, bem como é proposto pelos distritos de inovação. Ao facilitar a conexão de empreendedores, governantes, acadêmicos e a sociedade organizada para a produção de inovações que beneficiem a população, fornecem a infraestrutura e estrutura necessárias para estimular avanços nas cidades. Esses espaços se diferem de estruturas formais pré-concebidas de inovação por terem maior facilidade de acesso e possuírem uma gama diversificada de atividades e apoio comunitário (GIID, 2024).
Nessa linha, pensando a dimensão socioambiental-tecnológica atrelada a integração por meio de parcerias estratégicas e trocas informacionais, a 41ª Conferência Mundial da IASP em Nairóbi, Quênia, promovido pela Associação Internacional de Parques Científicos e Áreas de Inovação (IASP) tratou do debate sobre os distritos de inovação serem uma ferramenta fundamental para construir cidades sustentáveis do ponto de vista ambiental, econômico e social para uma factual transformação urbana dentro do segmento IASP Innovation Districts. “O que todos eles têm em comum é o uso híbrido do espaço, a coexistência de empresas e pessoas que combinam ambientes de trabalho com moradia, lazer e cultura para estimular a inovação” (IASP, 2024).
O objetivo da nova aliança é movimentar habilidades, expertises, tecnologias e geração de recursos através de uma atitude inovadora, ao colaborar diretamente com a sociedade e criar indicadores de desempenho e uma estrutura de avaliação. E Porto Alegre, tem aqui uma incrível chance de despontar com a edificação de distritos inovadores por ser, reconhecidamente, uma das cinco capitais mais promissoras para startups na América Latina. E uma das cinco capitais da América Latina com o ecossistema de inovação emergente mais promissor (Global Startup Ecosystem Report 2023). Inclusive, mais da metade das startups do Rio Grande do Sul estão em Porto Alegre, comportando 1.146 startups (Ventiur, 2024). Em 2022, o RS teve 7 startups reconhecidas no ranking geral do 100 Open Startups e outras 6 nos Rankings TOP 10 por categoria. Consoante a ABStartups o RS está perto de alcançar a terceira posição em densidade de startups ativas.
Outra metrópole a ser considera é a de Nairóbi, que se destaca como o sexto maior polo financeiro do continente africano. O Quênia foi pioneiro na criação do M-Pesa, uma das primeiras plataformas para transferências monetárias totalmente digitais via dispositivos móveis. Atualmente, 15 anos após seu lançamento, o M-Pesa se consolidou como uma empresa multinacional com atuação em diversos países africanos. Paralelamente, Nairóbi tem atraído investimentos estrangeiros e sido beneficiada por políticas públicas eficazes de fomento à inovação. Essa realidade é evidente na proliferação de incubadoras e espaços de coworking. Entre eles, destaca-se o iHub, responsável pelo lançamento de mais de 450 startups no país, e o Nairóbi Garage, com três unidades na capital e mais de cem startups residentes.
Esses ecossistemas inovadores do Sul Global mostram que a inovação não é exclusiva do Norte econômico, mas sim uma força vital que pode emergir de qualquer contexto. À medida que o Sul Global continua a liderar em soluções que são, ao mesmo tempo, tecnologicamente avançadas e profundamente sensíveis às necessidades distritais características de cada comunidade, vemos um futuro onde a inovação aberta é um caminho para a equidade socioeconômica. Esse movimento não apenas posiciona essas regiões como centros de criação e disseminação de tecnologia, mas também como modelos de desenvolvimento inclusivo, capazes de enfrentar desafios globais com novas perspectivas e soluções transformadoras.
Sobre os autores
Aline Santos Barbosa
Aline Santos Barbosa é Mestranda em Filosofia pela PUCRS. É graduanda em Letras, no curso de Língua Inglesa (2021). Cordenadora do 8º Colóquio Internacional de Bioética, Neuroética e Ética da IA, organizado pela Escola de Humanidades, PUCRS. Coordenadora do Grupo de Trabalho Negritudes (GT-Negritudes vinculado ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Pontifícia Universidade Católica do Estado do Rio Grande do Sul (NEABI-PUCRS).. Trabalha há mais de 12 anos no segmento da Indústria Criativa do Brasil e internacional. É CEO das empresas Cultural Maps – espaço virtual de gestão de informação na área da cultura e IBIAMA – empresa que utiliza a realidade aumentada (RA) para inclusão de pessoas e acessibilidade de conhecimentos no campo tecnológico. É integrante do Grupo de Pesquisa Gestão Integrada da Segurança Pública com foco na Literatura, Arte e Diversidades (GESEG), coordenado pela Profa. Dra. Clarice Beatriz da Costa Söhngen. É pesquisadora do projeto de Ética e Segurança na Inteligência Artificial, RAIES (PPG-Filosofia) da PUCRS, coordenado pelo Prof. Dr. Nythamar H. F. de Oliveira Jr. Sua ênfase de pesquisa é sobre política algorítmica e a construção identitária da mulher preta no espaço digital. Durante as enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul, tornou-se head de Comunidades da ONG Bonanza (NAVI, TECNOPUC) juntamente com o Conselho Municipal dos Direitos do Povo Negro (CNEGRO) onde atua como assessora. é curadora do Ilhota HUB. É membro do Pacto Alegre e integra o projeto Educação Básica com Sustentabilidade e Inteligência Artificial, desafio extraordinário proposto pelo Pacto Alegre para o enfrentamento e superação das inundações sofridas no Rio Grande do Sul (2024), no contexto da Aliança para Inovação de Porto Alegre, que reúne as universidades UFRGS, PUCRS e Unisinos, chamado Porto Alegre Resiliente. Atualmente, cursa o primeiro Seminário Virtual denominado “Legados de la Esclavización, Reparações e Justiça Algorítmica”, promovido Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO) e pela UNESCO-Equador.
Bernardo Bonifácio Ferreira
Bernardo é Diretor de Inovação do ILHOTA HUB. Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PPGD-PUCRS). Pesquisador-Bolsista Integral no Programa de Excelência Acadêmica da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (PROEX-CAPES). Pesquisador de Inteligência Artificial da Rede de Inteligência Artificial Ética e Segura (RAIES) vinculada a Universidade da Califórnia (UCLA), Universidade de Nova York (NYU), Universidade de MIAMI (UMIAMI), Universidade de Bonn (UBONN), entre outras organizações coordenado pelo Prof. Dr. Nythamar H. F. de Oliveira Jr. Especialista em Direito Digital e Proteção de Dados pela Universidade São Judas Tadeu (USJT). Pós-Graduando em Ciências Criminais pelo Complexo Educacional Renato Saraiva (CERS). Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Diretor da AI Robotics Ethics Society (AIRES- PUCRS). Coordenador do Grupo de Trabalho Negritudes (GT-Negritudes vinculado ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Pontifícia Universidade Católica do Estado do Rio Grande do Sul (NEABI-PUCRS). Coordenador dos GT’s de Comunidades do Conselho Municipal do Negro de Porto Alegre (CNEGRO). Coordenador de Pesquisa do Núcleo de Pesquisa Antirracismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NPA-UFRGS). Chief Legal Officer (CLO) da IBIAMA – empresa que utiliza a realidade aumentada (RA) para inclusão de pessoas e acessibilidade de conhecimentos no campo tecnológico. Mentor do Centro de Oportunidades do Mário Quintana de Porto Alegre (COMQ) para jovens periféricos. Idealizador da startup Vidas Negras Protegidas (VNP) que atualmente participa do HANGAR/TECNOPUC/PUCRS. Integrante do projeto Educação Básica com Sustentabilidade e Inteligência Artificial, desafio extraordinário proposto pelo Pacto Alegre para o enfrentamento e superação das inundações sofridas no Rio Grande do Sul em 2024, no contexto da Aliança para Inovação de Porto Alegre, que reúne as universidades UFRGS, PUCRS e Unisinos, chamado Porto Alegre Resiliente. Selecionado pelo Data Privacy Brasil como representante da Região Sul do Brasil como Bolsista de Inclusão Regional para participar da Data Privacy Global Conference (DPGC) de 2024. Selecionado como um dos 6 participantes brasileiros para o primeiro Seminário Virtual denominado “Legados de la Esclavización, Reparações e Justiça Algorítmica”, promovido Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO) e pela UNESCO-Equador.