Como o letramento midiático pode ajudar Porto Alegre a ser mais inovadora?

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Luciana Kraemer e Taís Seibt (professoras da Escola da Indústria Criativa da Unisinos e coordenadoras do Desafio Nuvem de Educação Midiática)

 

As palavras deste título foram cuidadosamente pensadas para ganhar a atenção dos leitores. Até aí, zero novidade, pois é nos anos iniciais do ensino fundamental que se aprende a função do título em uma redação. Ocorre que os termos foram escolhidos a partir de técnicas de SEO que objetivam otimizar a busca deste conteúdo na rede, que incluem, por exemplo, fazer títulos que reproduzam o espírito da curiosidade de quem busca, própria dos usuários digitais.  A expressão “como isso acontece”, que está implícita, sinaliza para uma meta descrição. São artifícios criados a partir da análise dos dados da rede, ou seja, levam em conta as dinâmicas da lógica informacional que são causa e efeito do nosso modo de pensar e fazer perguntas, hoje.

 

“Entender os códigos da internet, a linguagem binária, os uns e os zeros que criam essas coisas positivas, mas também todas essas encrencas, é tão relevante quanto estudar português ou matemática”, frisou o chefe da seção de Liberdade de Expressão e Segurança de Jornalistas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Guilherme Canela. O dirigente esteve no painel que lançou o Desafio Nuvem de Educação Midiática, no início de abril, um programa de educação midiática criado para auxiliar os professores do ensino básico do Rio Grande do Sul a trabalhar com o tema em sala de aula. O programa tem o apoio da Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil, através do Consulado-Geral dos Estados Unidos em Porto Alegre. Canela destacou que, graças à internet, as crianças têm condições de exercer a liberdade de expressão e precisam ser inseridas como sujeitos desse direito. “Não podemos manter crianças em bolhas, mas torná-las resilientes e fazer justiça quando sofrerem danos, como no caso de pedofilia”, disse o representante da Unesco.

 

Como consta na Carta das Cidades Educadoras, que articula os princípios básicos pelos quais se deve reger o impulso educador, é função de uma cidade que se pretende educadora fomentar a reflexão e o pensamento crítico para que seus cidadãos tenham capacidade de compreender os complexos problemas advindos com a sociedade do conhecimento que se quer desenvolver. Neste sentido, quanto mais cedo as crianças e os adolescentes souberem filtrar o que consomem e produzirem para as redes, mais preparados estarão para exercerem e cobrarem uma cidadania democrática e global, se tornando protagonistas de suas histórias. As premissas da carta encontram ressonância nas novas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular, que colocam a educação midiática como uma competência a ser desenvolvida nas diferentes disciplinas, passando pela leitura crítica dos conteúdos midiáticos em seus diferentes formatos, interpretação correta de gráficos e porcentagens, assuntos cotidianos que geram desinformação, como a pandemia e as vacinas, entre outros temas como a comunicação não-violenta, a representatividade social e a participação cívica.

 

Um dos desafios da Aliança para a Inovação,  este belo movimento de articulação da sociedade a partir das  universidades (UFRGS, PUC e Unisinos)  – é contribuir para que Porto Alegre se torne referência em inovação tendo em conta o contexto das cidades educadoras. E conforme explicou o consultor Marcio Tascheto da Silva, no lançamento do Programa Cidades Educadoras no Teatro da Unisinos, no final de abril, as cidades gaúchas que pertencem à rede nacional de Cidades Educadoras, têm contado com polos universitários para estimular essa participação.

 

Neste sentido, entendemos que o Desafio Nuvem de Educação Midiática, como um programa que nasce na universidade e se projeta para o ensino básico com o objetivo de oferecer oficinas gratuitas para os professores de escolas públicas e particulares, representa o compartilhamento de um capital de conhecimento (recurso) que envolve a reflexão sobre o uso crítico da tecnologia das coisas, aspectos da arquitetura informacional e da indústria criativa, com vistas a uma formação mais crítica e ativa sobre os sentidos da inovação. Serão duas oficinas gratuitas, nos dias 21 de maio e 11 de junho, sábados, por meio da plataforma Zoom.

 

Entre os palestrantes confirmados estão o jornalista e professor de história Raphael Kapa e a cientista da computação Nina da Hora.  Ambos trabalham com educação midiática junto a  professores e estudantes: crianças, adolescentes e jovens. Kapa é mestre e doutorando em História pela Universidade Federal Fluminense e Nina é pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da FGV (CTS-FGV), divulgadora científica e hacker antirracista.

 

Após participarem das capacitações gratuitas, os professores poderão apresentar projetos para colocar os conhecimentos em prática em seus planos de ensino, podendo ter seu trabalho publicado em um e-book. Uma comissão multidisciplinar irá escolher 10 trabalhos de destaque para publicação.

 

Será uma oportunidade para a comunidade escolar gaúcha mostrar sua vocação educadora, dando visibilidade a seus talentos e projetos de inovação cívica para inspirar outras cidades, escolas e professores. As inscrições devem ser feitas até o dia 20 de maio do link bit.ly/desafionuvem2022.11

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