Por Francisco Hauck – Presidente da Fábrica do Futuro
O assunto “tecnologia e inovação” sem dúvida tem capturado muita atenção. Os hubs e polos tecnológicos trazem histórias que falam de empreendedorismo visionário. Adotamos o tema como um caminho capaz de impactar de forma positiva nosso futuro. Sem dúvida, a construção conceitual foi um passo fundamental. Afinal, queremos juntos conspirar por um cenário mais promissor para as gerações futuras da região. Fomentar, atrair e reter talentos. Acredito muito no poder transformador de ideias. Se estivermos atentos aos nossos desafios, não há nada de errado em ter uma boa dose de otimismo. Porém, precisamos estar atentos a alguns desafios que nos separam de converter a visão em realidade.
Nossas cidades não foram pensadas para oferecer infraestrutura como um diferencial competitivo. Também, estamos acostumados a lidar com um nível de violência urbana que afugentaria cidadãos europeus. As pessoas buscam qualidade de vida. No ambiente de negócios, a burocracia e a insegurança jurídica dificultam muito a captação de projetos. Mas talvez o maior obstáculo seja nosso déficit educacional. Hoje está ficando mais evidente o tamanho do prejuízo econômico decorrente de negligenciar a qualidade do ensino. Quando apenas 4% dos brasileiros conseguem resolver uma equação de primeiro grau, fica difícil imaginar que todos estes hubs de inovação sejam ocupados por mentes brilhantes.
A vocação existe. Os parques tecnológicos e o engajamento empresarial demonstram isto claramente. Sem falar nos casos de sucesso de pequenos empreendedores tecnológicos (para mim, o maior indicador). O potencial é real. Contudo, sem estímulo e condições de prosperar, nada vai acontecer.
A vocação existe. Os parques tecnológicos e o engajamento empresarial demonstram isto claramente. Sem falar nos casos de sucesso de pequenos empreendedores tecnológicos (para mim, o maior indicador). O potencial é real. Contudo, sem estímulo e condições de prosperar, nada vai acontecer. Pensando no longo prazo, um elemento crucial que eu não vejo ainda presente é o apoio popular. É preciso comunicar melhor sobre os benefícios e relevância do tema para o cidadão médio. Este apoio legitima a participação do estado como suporte para uma estratégia de política pública. Eu sinto que nossa comunicação ainda é de nós para nós mesmos, transmitindo uma aura de elitismo. Parece girar muito mais em torno de admiração do que de busca de engajamento.
De fato, estudos apontam que a maior parte das startups que fracassam sucumbem não por questões tecnológicas ou mesmo por falta de financiamento, mas sim por problemas de marketing (inadequação entre produto e mercado) e gestão de equipe. Enfim, tem muito mais a ver com questões básicas, inerentes ao ser humano, do que com tecnologia propriamente.
Uma questão importante no distanciamento de muitos da palavra inovação tem a ver com alguns conceitos equivocados. Inovar é fazer algo de uma nova forma. É sobre criatividade. Identificar oportunidades (problemas) e desenhar soluções requer em essência um profundo conhecimento das pessoas e dos seus hábitos. É possível (e recomendável) conversar bastante com seu público alvo antes de sair escrevendo códigos ou desenhando produtos. A melhor linha de código do mundo não pode transformar uma péssima ideia em uma boa ideia. De fato, estudos apontam que a maior parte das startups que fracassam sucumbem não por questões tecnológicas ou mesmo por falta de financiamento, mas sim por problemas de marketing (inadequação entre produto e mercado) e gestão de equipe. Enfim, tem muito mais a ver com questões básicas, inerentes ao ser humano, do que com tecnologia propriamente.
Ou seja, não é preciso amar tecnologia para se sentir incluído neste futuro. Um futuro benéfico é aquele que não deixa ninguém para trás. Justamente, uma parte fundamental da pesquisa em tecnologia busca tornar ela invisível. O foco é tornar o seu uso algo intuitivo, adaptar ela ao ser humano, não o inverso. É muito importante repactuar as gerações mais velhas com a inovação, e lembrar que “ser jovem” não é necessariamente algo bom. O mais importante é ser criativo. E criatividade não tem idade, classe ou cor.