Palavras fantásticas e o que representam

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Não à guerra, sim à resiliência

Eu era pequeno e comecei a lutar judô. Ou melhor, comecei a me divertir fazendo algo que não
conhecia, e sei que fui influenciado pelo irmão mais velho, que começou antes de mim. Beijo,
mano!

Acredito que teve bastante influência, também, meu jeito um tanto competitivo de ser, já naquela
idade. Bem pequeno, eu gostava das competições, das disputas. Assim que eu via.

Mas e o que eu aprendi com o judô tão cedo?

Na verdade, aprendi muito pouco sobre competir. Ganhei três medalhas ao longo da minha
“carreira de atleta”, que durou uns 5 anos – exatamente 3 medalhas: uma de ouro, uma de bronze
e uma de prata, nesta ordem. Meu irmão, por outro lado, super mais sereno, dois anos e meio
mais velho que eu, ganhou tudo! Inúmeras medalhas, troféus, e viagens para competir fora da
cidade, longe da família. Um ídolo pra mim!

É engraçado, mas o que acabei de narrar acima me parece diferente hoje. Eu aprendi quase nada
sobre competição porque na verdade… eu não gostava de competir. Eu pensava que gostava.
Ou, talvez, aquele “meu lado competitivo” não fosse exatamente assim como falamos comumente,
talvez eu quisesse competir comigo mesmo. Eu queria ser melhor que eu mesmo, não que ou
outros. Quem sabe? Alguma psicóloga lendo isto?

Mas aprendi outras coisas com o judô – esporte que admiro exatamente pelo que aprendi. O que
mais tenho felicidade de ter entendido bem cedo é uma palavra fantástica bem conhecida hoje:
resiliência.

É que a gente aprende desde a primeira pisada no tatame que o judô tem uma filosofia (se você é
filósofa a gente pode conversar no privado; lembre-se que nem todo judoca estudou filosofia…),
que pode ser aprendida assim: é preciso “ceder para vencer”.

A história por trás disso conta que Jigoro Kano, um educador e atleta japonês, olhava pela janela
a neve que caída e se acumulava nos galhos das árvores secas. Os galhos das grandes árvores
acumulavam bastante neve, muito mais que as menores, mas se quebravam por causa do peso.
Nas árvores menores, no entanto, a neve se acumulava e seus galhos iam cedendo até que a
mesma neve escorria para o chão, enquanto o galho retornava à posição original, sem se quebrar.
A árvore menor, com resiliência, “vencendo” a maior.

Talvez pelo lindo exemplo do mestre fundador do judô tenha sido mais fácil eu entender. Na
academia de aspecto bem simples, os colegas judocas treinavam e aprendiam com todos,
grandes e pequenos. Todos ali aprendiam a ceder para vencer, não uns aos outros, mas talvez a
si mesmos, suas lutas particulares, seus desafios. Havia quem, descalço, caminhava quilômetros
para ir treinar. Estávamos querendo aprender a ser resilientes!

Hoje não parece ser questão de desejo, mas de necessidade. Os desafios são outros e se
quisermos lutar com o kimono do século passado… não venceremos a nós mesmos. Queremos
vencer, sim, mas precisamos ser todos melhores que ontem. Empreendedores precisam ser
resilientes. Educadores precisam ser. Gestores públicos precisam. Cidadãos.

Vale para cidades. Se nossa cidade quer ser melhor do que foi até aqui, vai precisar ceder em
alguns aspectos. E ao ceder, em algum momento terá de se adaptar. E “adaptação” é outra
palavra fantástica, mas… aí é outra história.

Minha trajetória de atleta foi curta, mas a vida de aprendiz tende a ser longa.

Artigo por Marcelo Paes

Marcelo Paes foi adotado por Porto Alegre há mais de duas décadas e atua no ambiente de
inovação há vários anos. É empreendedor, conselheiro de empresas e motociclista.

 

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