Tecnologias para educação são as que mais crescem entre as startups no Estado

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Materia original da Zero Hora
Texto: Erik Farina
Foto: Isadora Neumann / Agencia RBS

O malabarismo para encontrar novas tarefas pedagógicas para propor às crianças ficou mais fácil para Alexandra Schuch, professora da Escola de Educação Infantil Casa da Vó, de São Leopoldo. Se antes ela precisava usar seu tempo de descanso para revirar pilhas de livros em busca de atividades, agora aproveita os intervalos entre as aulas para pesquisar no próprio celular áudios educativos, tutorial para teatrinho e vídeos didáticos.

– A tecnologia ajuda o educador a sair do lugar comum, o que é muito importante para a formação das crianças – explica Alexandra.

A facilidade se apresentou quando a escola passou a utilizar uma plataforma que organiza conteúdos pedagógicos e oferece agendas de atividades. Pelo celular ou pelo computador, o educador pode criar planos de aulas, aprender como aplicar um exercício que envolva materiais de reciclagem ou programar uma lição multimídia, por exemplo.

– Como tudo é digital, os professores compartilham entre si conteúdos interessantes e trocam ideias sobre as metodologias que deram bom resultado – conta Alexandra.

A novidade na escola de São Leopoldo segue uma tendência da educação no país. Muitas instituições de ensino passam a incorporar ideias que aproveitam as novas tecnologias para melhorar o ensino, a formação de professores ou a gestão de colégios.

– A tecnologia é um caminho-chave para ajudar o Brasil a recuperar seu histórico déficit educacional – acredita Glauber Carvalho, diretor da startup Impare, que forneceu a plataforma para a Casa da Vó.

A empresa, hoje instalada no Parque Tecnológico São Leopoldo (Tecnosinos), abriu as portas em 2012 como editora de material didático em São João do Polêsine, a 270 quilômetros de Porto Alegre. Em 2014, passou a digitalizar todo conteúdo para reduzir custos e chegar a mais professores. Em 2016, veio a criação da plataforma digital.

Hoje, 126 escolas municipais no Rio Grande do Sul, no Paraná e em São Paulo utilizam a inovação da Impare. A startup foi selecionada pela prefeitura de Porto Alegre dentro das ações do Pacto Alegre para testar sua solução em algumas instituições da rede municipal em 2020. Além disso, o projeto deve avançar para instituições privadas – a experiência na Casa da Vó é o primeiro passo nessa direção.

Caminho aberto para novos negócios

Um levantamento da plataforma de inovação Distrito mostra que o Rio Grande do Sul tem 26 startups que desenvolvem tecnologias para a educação – empresas que são chamadas de edutechs ou edtechs. O peso gaúcho no cenário nacional (que tem 5,9% das 434 edutechs brasileiras) se aproxima da participação do Estado no Produto Interno Bruto (PIB), de 6,4%. Especialistas, no entanto, enxergam uma rota de crescimento.

– As startups de educação são as que mais crescem no universo da inovação no Estado: são 8% do total dos novos negócios em tecnologia. Isso se deve muito ao esforço de parques tecnológicos para gerar mais edutechs que ajudem a entender como as gerações Y e de millennials aprendem e que, além disso, ofereçam tecnologias para auxiliar nesse aprendizado – avalia Carlos Aranha, diretor da Rede Gaúcha de Ambientes de Inovação (Reginp).

As novas tecnologias também ajudam a tornar o aprendizado mais prazeroso e eficiente. Uma startup instalada no Parque Científico e Tecnológico da UFRGS (Zenit), na Capital, usa inteligência artificial para estimular alunos de inglês a intensificar os estudos. A partir do conceito de gamificação (criar um ambiente lúdico para propor atividades), o programa Experter, da Cognitiva Brasil, ajuda os usuários nos temas de casa.

O software apresenta trilhas didáticas que se adaptam conforme o desempenho do aluno. Se o estudante demonstra facilidade em um assunto, o software passa a apresentar perguntas de outros temas, para depois voltar ao original com questões mais difíceis. Se o aluno persiste em erros, o Experter sugere que aprofunde o conhecimento em sala de aula e então muda o foco das próximas perguntas, até que o estudante esteja pronto para voltar aos desafios originais.

– Assim, evita-se que o estudo seja tedioso a ponto de fazer o estudante se desconcentrar ou exigente demais sob o risco de fazê-lo desistir – explica o cientista computacional Luiz Henrique Longhi Rossi, diretor da Cognitiva Brasil.

Todo o conteúdo programático é fornecido pelas escolas de inglês, e adaptado automaticamente pelo programa. A tecnologia oferece outras funcionalidades, como ranking entre os estudantes, lições em áudio e até histórias em quadrinhos.

– Para o estudante de inglês, o grande desafio é encontrar tempo para fazer os exercícios fora da sala de aula. Com o celular em mãos, ele pode estudar no ônibus ou no intervalo do trabalho – diz Luciano da Silva Santos, diretor da escola de idiomas Go English, que usa o software desde 2015.

O engenheiro aposentado Cláudio Koetz, estudante do curso, concorda. Ele afirma que voltou às aulas em 2019 com o objetivo de se sair melhor nas leituras de autores estrangeiros e compreender diálogos de filmes, e se surpreendeu com a facilidade trazida pela tecnologia.

– Com vários livros, não há tanta praticidade. As lições no celular ou no computador são mais dinâmicas e até divertidas – compara Koetz.

Conexão entre pais e alunos

Uma vertente importante das edutechs são tecnologias que melhoram a gestão de escolas ou a relação com pais e alunos. O colégio Província de São Pedro, de Porto Alegre, passou a usar em 2017 um aplicativo criado em Canoas. A plataforma Diário Escola substituiu as agendas de papel – e trouxe agilidade no contato de professores com os pais.

– Professores da educação infantil precisavam preencher 20 agendas com as mesmas informações sobre cardápio ou atividades pedagógicas. Hoje, fazem uma atualização pelo smartphone e a compartilham com todos os pais – explica Cristiane Maccari, coordenadora da Educação Infantil do Província.

Sobrou mais tempo para os educadores se dedicarem ao próprio desempenho do aluno. No Província, a agenda foi conectada ao sistema das catracas, e os pais são informados pelos celulares do horário exato de chegada e saída dos filhos da escola.

– Até os pais que não davam muitas informações pela agenda impressa passaram a se envolver mais, provavelmente pela praticidade – diz Fernanda Lübke, professora da Educação Infantil da escola.

A enfermeira Paula de Moura Macedo, mãe de Nina, aluna da Educação Infantil do Província, afirma que a tecnologiafacilita a troca de informações que antes precisavam ser repassadas por ligação, como um eventual atraso para buscar a filha, necessidade de fornecer alguma medicação ou recados sobre a programação da semana.

– Dou uma conferida no aplicativo pelo smartphone duas vezes por dia. Isso traz uma sensação de conforto e segurança por saber em tempo real como está sendo o dia dela – diz Paula, em referência à filha.

Diretor de operações da Diário Escola, Marcus Drzewinski afirma que a tecnologia já está em 350 escolas no Brasil. Em novembro, a empresa firmou uma parceria com o Google For Education, serviço que se conecta aos sistemas de gestão de escolas parceiras e gera relatórios de desempenho de alunos em provas, temas de casa, lista as leituras, entre outros. Agora, os pais poderão consultar pelo Diário Escola dados sobre os avanços – ou as dificuldades – de seus filhos no ambiente escolar.

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