Camila Borelli – Co-fundadora e CEO do Nau Live Spaces
Geralmente quando a pauta é liderança feminina sempre surge a pergunta: “por que ainda precisamos falar disso?” Quando no Brasil temos apenas 19% dos cargos de liderança ocupados por mulheres, é preciso falar sobre isso. Quando em 2020 a Fortune 500 anuncia um recorde no número de mulheres em cargos de liderança, com crescimento de 58% frente a 2019, e esse número é de apenas 7,6% (ou seja, dentre as 500 empresas mais valiosas dos EUA, apenas 38 mulheres ocupam cargos de liderança executiva), então, sim, precisamos falar disso. E não pararemos tão cedo.
Quando falamos de mulheres a frente de seus próprios negócios, os dados são um pouco melhores. O Brasil tem a 7ª maior proporção de mulheres entre os empreendedores iniciais, e elas foram responsáveis por 34% dos empreendimentos criados no Brasil em 2018.
Evidente que conquistamos muito. Mas também, até pouco tempo, não tínhamos nada. Segundo o Global Gender Report 2018, apesar das melhoras, ainda levaríamos cerca de 202 anos para eliminar totalmente a desigualdade de gênero da economia mundial.
Poderia discorrer aqui um tanto sobre o papel da mulher ao longo da história e a necessidade de corrigirmos as desigualdades simplesmente por este viés. Mas a verdade é que aumentar a representatividade feminina nas organizações tem também uma justificativa no plano prático, uma vez que um quadro mais diverso e igualitário representa uma vantagem competitiva. Vide o tão falado programa de Trainee do Magazine Luiza. Não foi um programa voltado exclusivamente para mulheres, e sim para negros, mas a Magalu reconheceu que a diversidade é fundamental para a companhia atingir seus objetivos financeiros.
Há um estudo da McKinsey que revela que a igualdade de gênero poderia adicionar 12 trilhões de dólares ao PIB global até 2025. Também, de acordo com o Women Will Brasil , iniciativa do Google que desenvolve programas digitais para o empoderamento econômico das mulheres no mundo todo, o PIB do Brasil poderia ser 30% maior caso as mulheres participassem do mercado de trabalho nas mesma proporção do que os homens.
A variedade de opiniões, de ideias e experiências pode contribuir de forma imensa para criação de um ambiente inovador e focado em resultados. A presença de mulheres nos cargos de liderança gera ganhos efetivos para as organizações, aumentando o clima de colaboração, a criatividade e também a produtividade das empresas. E eu tendo a acreditar que a onda de humanização que estamos vendo nas empresas tem muito a ver com a liderança e o aumento de mulheres donas de seus próprios negócios.
Raj Sisodia, o autor do livro Capitalismo Consciente, fala que todos os líderes deveriam ser mais femininos, significando que valores que seriam comumente associados a mulheres, em função da história vinculada à esfera familiar, como cuidado, compaixão, incentivo, vulnerabilidade e empatia, teriam ótimo resultado quando combinados ao estilo mais masculino, associado a agressividade, competição e resultados a todo custo, um estilo relacionado à uma esfera militar. Isso corrobora com algo que acredito muito. As mulheres não precisam adotar uma postura masculina para se inserirem e competirem no mercado de trabalho. Trata-se de um equilíbrio.
Mas afinal, qual é a solução? Como vamos ter mais mulheres empreendendo e participando de cargos de alta liderança? Para mim, e aquilo a que me proponho a defender é: mudança de cultura, empoderamento e desenvolvimento da autoconfiança das mulheres. E ter mais mulheres valorizando mulheres. Porque os números mostram que as mulheres já estudam, se preparam, e batalham muito, então nos falta pouco.
Amanhã celebra-se o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino. Uma data emblemática, assim como outras tantas escolhidas para celebrar mulheres e elevá-las ao seu potencial máximo, para que conquistem o espaço que sempre mereceram ter: qualquer um que quiserem.