Sérgio Mariucci – Reitor da Unisinos
Gustavo Borba – Decano da Escola Criativa da Unisinos
Inovação, hoje, é a palavra do momento. Todos prometem, querem e identificam a inovação como uma propulsora de relevância no jogo competitivo do mercado. Entretanto, há um insumo básico sem o qual o ecossistema se torna, a priori, deficitário de inovação, e também de empreendedorismo e de tecnologia, para usar todas as palavras do momento. Trata-se da educação básica. Sem educação básica de qualidade, a inovação fica deficitária no processo produtivo – um exemplo disso é o grande número de vagas em aberto nos parques tecnológicos do Rio Grande do Sul.
Historicamente, o conceito de inovação é definido como uma ideia implementada que traz um resultado, geralmente mensurado em termos financeiros, mas que se desdobra também em impacto social. O empreendedorismo se coloca como o meio transformador, que leva para a realidade toda a potência da inovação, gerando desenvolvimento e riqueza. Já a tecnologia, representa a gama infinita de facilitadores materiais para que a inovação aconteça.
Dentro desta perspectiva, sem dúvida os três termos coexistem e possuem uma forte correlação. Entretanto, qual o elemento propulsor da inovação e como garantir que resultados desse processo sejam distribuídos e beneficiem a todos?
Na realidade, independente do conceito, inovação está relacionada com o novo, com o diferente, com o surpreendente. E esse processo só acontece a partir da criatividade e da diversidade. Sem criatividade, repetimos. Quando repetimos, somos vencidos pela inércia, paramos. A diversidade permite a ampliação do olhar, perceber o que não vemos em nossa rotina, e promove a abertura das ideias para novas perspectivas.
Se compreendermos a criatividade e a diversidade como atributos centrais para o desenvolvimento da inovação, é fundamental buscarmos caminhos para desenvolver estes dois elementos em nosso dia a dia. E o principal caminho para desenvolver a criatividade humana e também para fomentar a diversidade é a educação.
Claro que a criatividade não é privilégio de quem tem o direito assegurado à educação de qualidade (o que não deveria ser um privilégio de poucos!). Fazemos referência aqui, por exemplo, ao mestre Cartola, genial poeta que não tinha mais que o equivalente, hoje, ao nível fundamental de ensino. Mas pensemos em quantos “Cartolas” – poetas, inventores e empreendedores – que perdemos com os que ficaram à margem das escolas e das universidades. As escolas são ou deveriam ser ambientes de aprendizagem, criatividade e arte. Melhor que isso não seja um devaneio utópico, mas uma consciência relacionada a insumos potentes para um ecossistema sólido de inovação, empreendedorismo e tecnologia.
A educação pode muito, mas não pode tudo. Ela definha quando instrumentalizada e engessada por currículos autoritários e prescritivos. Ken Robinson, entre outros, alerta para o perigo de escolas limitarem o olhar e a criatividade dos alunos. A escola pode aninhar sonhos de liberdade assim como também hospedar experiências terríveis de toda ordem. Temos, no Brasil, tradição pedagógica suficiente para garantir uma educação básica prenhe de honrados cidadãos, criativos, empreendedores e inovadores na arte da vida e da tecnologia.
A inovação também se apresenta no ambito pedagógico como fonte de renovação metodológica, mas ainda pouco decifrada e efetivada. Certo é que carecemos do básico na educação e muito precisamos dela para potencializar não apenas o aprimoramento de uma cultura empreendedora mas, sobretudo, um projeto de país capaz de fixar nossa juventude e todo o seu potencial criativo.
O Pacto Educativo Global, proposto pelo Papa Francisco, nos desafia a termos coragem de colocar o jovem no centro de nossos investimentos em educação e de propulsionar a educação como geradora de um desenvolvimento sustentável. A mudança sustentável precisa acontecer a partir de um olhar sistêmico, que contempla uma perspectiva de longo prazo, e que coloca a ênfase nas pessoas.
As pessoas têm a capacidade transformadora e inventiva necessárias para promover o desenvolvimento social e coletivo. “A educação transforma pessoas e as pessoas transformam o mundo”, nos ensina Paulo Freire. Ele assim como Anísio Teixeira e Álvaro Vieira Pinto, já no início da segunda metade do século passado, pleiteavam educação de qualidade para todos e com influxo em inovação tecnológica. O investimento em inovação para gerar produção é um movimento incompleto se não incluir um projeto de educação voltado para o desenvolvimento sustentável e com benefícios coletivos. 26